domingo, 18 de setembro de 2016

Capítulo 1 - A espera

Barcelona, Espanha, 1635

Um casamento o espera.

Esse único pensamento continuava a assolar e a perseguir a mente de Estevam Studel, era o dia mais feliz da sua vida que ele pudera se recordar em anos. Estava prestes a desposar a única coisa que ele mais amou em sua vida, e isso o inquietava. O tão esperado “para sempre” estava por vir, estava se anunciando timidamente, ia ser agora! Ele lutava constantemente para não deixar que o medo e o nervosismo tomasse conta de seu corpo e assumisse o comando por inteiro. Olhara para o lado sutilmente para afastar esses pensamentos ruins da sua cabeça e se acalmava com a presença dos seus amigos. Membros da Ordem do Corvo, juntos ao lado de Estevam Studel nesse momento tão importante como irmãos de sangue, todos muito bem vestidos com trajes de gala, com espadas embainhadas na cintura que refletia e tilintava a luz do ambiente, coberturas longas e escuras envolviam cada um daqueles homens misteriosos.  

A catedral mais linda que havia na cidade de Barcelona agora se alegrava, suas torres imponentes de arquitetura gótica e triste se enfeitavam e sorriam a espera de Marrie. Nunca uma espera fora tão prazerosa e tão festivamente comemorada como essa. Todos da cidade se amontoavam aos cotovelos em cada corredor e entrada, qualquer brecha de lugar possível para ver a chegada de Marrie Contatie Pos-cass Foivoiag.
 Ela era, sem nenhuma sombra de duvida, a mais formosa e delicada dentre todas as mulheres, de beleza quase angelical encantava e transformava o mundo por onde passava, despertava o amor em qualquer lugar que ia, porém todo esse amor era do seu amado e único homem. A pele mais branca e macia, os cabelos mais negros e longos, ela mais parecia uma noite de inverno do que uma mulher, porém no seu olhar tímido havia o verão. E foi nessa eterna terra do verão que Studel, dia após dia em suas orações antes de dormir desejou passar a eternidade.

Martin Valverde era o melhor amigo de Estevam a anos e assumiu esse posto antes mesmo da adolescência. Ele era sério, um olhar sempre cansado, de poucas palavras e de ar pensativo, muita das vezes apenas escutava pacientemente o amigo falar empolgado a respeito de um determinado assunto e apenas ria. Mas quando abria a boca para expressar a sua opinião a respeito de algo quase sempre jorravam palavras de sabedoria e bons conselhos. Estevam Studel nunca tomou uma atitude sequer na sua vida sem antes consultar a opinião do seu fiel amigo. Mesmo de natureza triste e sempre distante, em todos esses anos Martin Valverde nunca o abandonou, sempre esteve ao seu lado, em todos os momentos.
Ao lado direito de Estevam Studel estava seu melhor amigo na posição que já era de costume. Martin Valverde inclinara a cabeça quase imperceptivelmente e lançara um olhar desconfiado, mediano e em silêncio para a multidão que ali estava. Todos eufóricos como cães raivosos, olhares atravessados cruzavam a catedral como projeteis de flechas inflamadas e piche, espuma branca cripitantes escorriam pela boca dos mais abastados e invejosos da sociedade e caia sobre os ombros de Estevam que estava feliz demais para notar. Mas em meio à euforia e aquela comoção popular apenas um não estava feliz, apenas um não estava sendo levado pelo calor do momento e os olhos de Vlaverde foram arrastados e pregados como estacas firmes na figura sinistra do zelador da família Studel. Sentado com a cabeça um pouco inclinada para baixo, com as pernas bem juntas e com as mãos pesadamente repousantes sobre elas, Victor se personificava em um grande hiato em meio a toda excitação.
Martin Valverde mantivera os olhos fixos em Victor antes de voltar a fecha-los novamente, sua respiração assumia agora um som de mau agouro, algo estava errado, Victor nunca estivera tão obscuro e energeticamente instável, alguma coisa estava muito fora do lugar.
                -Chegou a hora- Disse o velho padre com a voz dolorida e fraca, mas com clareza.
Do nada, as portas rústicas da igreja eram abertas lentamente riscando ainda mais o chão da catedral. Lá estava ela. Os anjos anunciavam ao som de liras a sua chegada, nunca estivera tão linda em toda a sua vida. ­­­­­­Os passos lentos e delicados de Marrie trazia com ela uma beleza dessas de provocar uma fome rara, uma avidez por mais presença e junto ao corpo de Estevam essa atração poética conjugava-se sem querer consumar, um querer estar junto que nunca cessa de fato.
Era noite lá fora, o frio cortava mais profundo que o medo, cortava como laminas contam a carne, mas as pessoas perseveravam firmes, tudo porque Marrie trazia o dia, trazia a alegria para a esperança triste de Estevam, porque ela era alegre e com ela também vinha à esperança.
Cada passo dado era uma entrega definitiva, cada passo ela conduzia mais e cada vez mais Estevam para perto da fonte de todas as coisas, e era lá que o desejo se origina. E nada míngua com o passar do tempo e mesmo acreditando não ter mais espaço, cresce, flui, floresce, se imensa e esparrama clareando o que antes era escuro. Cada vez mais e mais Estevam era consumido pela vontade de dizer do amor que tinha e da ternura delicada que saia dos lábios de sua amada.
Ele via em nela cabos de mar, curvas no longínquo, e vastas súbitas margens de paisagens. Estevam Studel sempre  flutuava na vida, ele tinha a alma dos grandes navegantes e olhava para o porto a sua frente, repousante ao seu lado todas as noites quando dormia. Ver aquele porto misterioso sobre a solidão do mar e sempre querer atracar. Do além-mar, a voz do porto tornavam-se em uma voz absoluta sem boca, voz humana vinda de sobre, de dentro e de acima da solidão dos mares, e ela chamava por ele, chamava por ele e cada vez mais chamava por ele.
Martin Valverde agora largava um sorriso de canto de boca, seus olhos agora se relaxavam levemente. Com a mão direita dentro do bolso ele apertava na curva de sua mão suada a carta que Marrie escrevera para Estevam antes do casamento e confiara a ele para entregar ao seu amigo na primeira oportunidade que tivesse.

Gritos estridentes de pavor ecoavam pela catedral. 

Era Victor, parado no corredor bem no meio da igreja e agora apontara, com as mãos bastante trêmulas, uma arma em direção a Marrie. Instintivamente Valverde e todos os amigos de Estevam deslizavam suas mãos para o interior de suas vestes e seguravam firmes suas respectivas armas prevendo um futuro conflito. Martin Valverde era um homem de hábitos estranhos e muito bem relacionado na sociedade. Ele olhara para o canto e via o seu capacho mais próximo de braços cruzados, em pé e encostado na parede. Era Krun, um homem corpulento, de cabelos ruivos cor de fogo, aparência selvagem, ombros largos, um artista na arte de matar. Valverde contratou assassinos que livrou da forca para fazer a segurança da sua família e ele apelidara esse de “cuca vazia” devido ao seu dom de partir o crânio de homens até o meio dos olhos.
Valverde fizera um sinal de comando com a cabeça para Krun dando sinal verde para ele fazer o que tiver que ser feito. E então, mais do que imediatamente ele começara a andar, deslizava sorrateiramente como uma cobra entre as pessoas, com um olhar sempre fixo no alvo e com o seu punhal já em mãos.
-Eu te amo Marrie! Eu sempre te amei todo esse tempo!-Gritava Victor em voz rouca e mente fervilhante em confusão.
Todos agora prendiam a respiração como que se engolissem o ar. Um pânico se instalara em todos e Estevam ainda tentava compreender o que estava acontecendo. Marrie se virava de costas para o seu noivo que estava a certa distancia dela e de forma serena sorria para Victor pedindo um pouco de calma.   
Krun estava a cinco passos atrás de Victor, ele tivera um momento de hesitação e lançou um olhar para Valverde esperando por novas instruções, que inclinou a cabeça em aprovação.





terça-feira, 6 de setembro de 2016

Herbalismo e o Histórico das Plantas Medicinais



Quando os pesadelos que conhecemos como cidades ainda não haviam surgido nos séculos passados, vivíamos em harmonia com a Terra e usávamos sabiamente seus segredos. Muitos conheciam as antigas magias das ervas e das plantas. O conhecimento foi passado adiante de geração em geração, e desta forma, o saber foi amplamente movimentado e utilizado. A maioria dos camponeses conheciam uma erva que era uma poderosa proteção contra o mal, uma certa flor que produzia sonhos proféticos, e talvez um ou dois encantamentos de amor infalíveis. As Bruxas tinham suas próprias operações complexas com a magia herbal, assim como os magos e alquimistas. Logo, uma densidade de conhecimento mágico acumulado ao redor de simples ervas que crescia ao longo de córregos, em prados verdes e no alto de solitários penhascos apareceu. Muitos de nossos ancestrais, entretanto, olhavam para as estrelas distantes da Terra e sonhavam com coisas mais grandiosas. Na corrida em direção a perfeição mecanizada, a humanidade tornou-se órfã da Terra, e muito da antiga tradição foi esquecida.

Felizmente, não foi completamente perdida. As Bruxas tornaram-se as guardiãs dos segredos da Terra; deste modo, elas foram vistas com medo por aqueles que viraram as costas para os Antigos Caminhos. O terror e o ódio forçaram as Bruxas a se esconder, e por séculos seus segredos permaneceram intocáveis. Quando as antigas bruxas morreram, muitos de seus segredos morreram com elas, pois, conforme os séculos passavam, havia cada vez menos os que se importavam em aprender as artes da magia. Hoje estamos experimentando um ressurgimento da consciência com a terra. As organizações ecológicas proliferam. A reciclagem é um negócio estrondoso. As pessoas estão rejeitando os alimentos químicos e preservados artificialmente por alimentos mais saudáveis. Ervas que antigamente não eram
veneradas mais uma vez reaparecem por si próprias. Entretanto além das especulações e conselhos, a arte mágica do herbalismo tem sido amplamente deixada inexplorada e inexplicada.

Os conhecimentos sobre herbologia sobre os quais conversaremos são uma tentativa em preencher a grande lacuna que falta dentro do conhecimento herbal. Embora estas instruções tenham sido longamente a ocupação das Bruxas e suas famílias, tudo que se faz necessário para ser bem sucedido na prática do herbalismo mágico é um ardente desejo de melhorar sua vida e a vida daqueles que você conhece e ama. Estas orientações são um guia completo e prático. Sem nenhuma ligação esotérica ou obscura, devem servir bem como introdução á magia herbal – os aspectos positivos da magia herbal. Também discutiremos mais tarde o uso das ervas de “banimento”, sem nenhum envenenamento, maldição, controle, influência, amarração ou qualquer tipo de informação semelhante sobre magia negativa não está inclusa aqui, uma vez que tais práticas não têm lugar na magia divina dos herbalistas.

Na magia, especialmente na magia herbal, uma erva é uma planta valorizada por suas vibrações ou energias. Embora as “ervas” neste livro incluam algas marinhas, cactos, árvores, frutas e flores que uma pessoa não possa normalmente considerar como ervas Avanços recentes na ciência tem nos capacitado a registrar fotograficamente estas vibrações, apesar do uso da fotografia kirilian. Deste modo, a ciência mais uma vez justifica a magia. Ainda existem Bruxas que caminham descalças sobre a Terra e ouvem o sussurro das árvores e se adornam com ervas sagradas enquanto a Lua as observa sob suas cabeças. O que resta de suas lendárias tradições é fragmentado; uma colcha de retalhos de crenças, conhecimento e rituais. Estas reminiscências, no entanto, são tão eficazes hoje quanto eram quando surgiram em outras eras mágicas. A magia herbal é um dos mais fáceis, seguros e alegres métodos de restabelecimento das raízes da terra para recobrar uma vida natural e saudável. Ela toca a essência da vida por si mesma com rituais simples e alguns objetos.

A magia está contida nas ervas – e  dentro de você. A magia herbal é uma cooperação entre a planta e o homem, entre o céu e a terra, entre o microcosmo e o macrocosmo – uma união de energias forjadas para produzir mudanças através de métodos que os observadores ou as pessoas de fora vêem como “sobrenatural”. Estes meios são mais naturais, mais antigos do que as religiões computadorizadas e os valores sociais pré fabricados do mundo atual que podem escapar a muitos, mas este é o meio pelo qual a magia opera. Não é para todas as pessoas. Não existem votos a serem jurados, grupos para se unir, e demônios a serem venerados. E, embora existam algumas regras simples a serem seguidas que asseguram melhores resultados, a magia pode ser simples ou complexa de acordo com seu desejo. O que falamos aqui é sobre o poder da magia das ervas. O conhecimento contido nele foi preservado de modo que possamos melhorar nossas vidas. Use este sagrado conhecimento com amor.



“... E o seu fruto servirá de alimento e a sua folha de remédio”.
Velho Testamento - Ezequiel, 47:12.

HISTÓRIA DAS PLANTAS MEDICINAIS

Desde o ano 3000 a.C. têm-se informações que a China dedicava-se ao cultivo
de plantas medicinais. O Imperador Sheng-Nung utilizou uma série de plantas em seu próprio corpo, para saber o efeito que provocavam. Entre tantas destacou o uso da raiz de ginseng, anunciando ser a mais fabulosa das ervas e que favorecia a longevidade. Escreveu um tratado denominado PEN TSAO, verdadeira farmacopéia que englobava todo o saber relacionado com o uso de plantas como medicamentos. Um antigo texto chinês extraído da Farmacopéia de Shen-Nung diz o seguinte sobre o ginseng:

“Tem sabor adocicado e sua propriedade é ligeiramente refrescante, cresce nos desfiladeiros das montanhas.
É usado para reparar as cinco vísceras, harmonizar as
energias, fortalecer a alma, afastar o medo, remover substâncias tóxicas, a brilhar os olhos, abrir o coração e melhorar o pensamento. Uso contínuo dará vigor ao corpo e prolongará a vida”.

A história conta que o Imperador viveu 123 anos, sempre experimentando as
ervas e tomando ginseng, erva que nos dias atuais é muito utilizada para regeneração dos tecidos, melhoria do funcionamento de algumas glândulas, para o rendimento físico e mental, dores de cabeça, amnésia, como apoio no tratamento de grande número de doenças do coração, dos rins e dos sistemas nervoso e circulatório. Em seu "Cânone das Ervas" foram mencionados 252 plantas. Em 2798 a.C., o Imperador Huang Ti, formalizou a Teoria Médica no Nei Ching. No século VII, no governo da dinastia Tang, foi impressa e distribuída uma revisão do "Cânone de Ervas.
Li-Chi-Chen (1578), completou seu “Compêndio de Matéria Médica” onde reuniu todos os conhecimentos existentes no campo da farmacologia, com 1954
prescrições médicas, relacionando mais de 1000 drogas de origem vegetal, animal e mineral, distribuídos em 16 capítulos. Placas de barro de 3.000 a.C. registraram importações de ervas para a Babilônia. Por volta de 2.000 a.C. aconteceram às trocas com a China, de ginseng, a erva da longevidade. A farmacopéia babilônica abrangia 1400 plantas.
O primeiro médico egípcio conhecido foi Imhotep ( 2980 a 2900 a.C.), grande curandeiro, que utilizava ervas medicinais em seus preparados mágicos. Os Papiros de Ebers, do Egito, foram um dos herbários mais antigos que se tem conhecimento, datando de 1550 a.C., e ainda está em exibição no Museu de Leipzig ( são 125 plantas e 811 receitas).
Nessa mesma época os médicos indianos desenvolviam avançadas técnicas cirúrgicas e de diagnóstico e usavam centenas de ervas nos seus tratamentos. Os hindus consideram as ervas como as "filhas prediletas dos deuses".
Sabe-se que desde 2300 a.C., egípcios, assírios e hebreus cultivavam diversas
ervas e traziam tantas outras de suas expedições. Nesses tempos, as plantas eram muitas vezes escolhidas por seu cheiro, acreditavam que certos aromas afugentavam os espíritos das enfermidades. Essa crença continuou até a Idade Média, onde os médicos usavam no nariz um aparelho para perfumar o ar que respiravam. Os egípcios utilizavam além das plantas aromáticas, muitos outras com efeitos diversos. Também na arte de embalsamar os cadáveres para guardá-los da deterioração, experimentaram muitas plantas. Diocles (400 a.C.) escreveu o primeiro livro sobre ervas conhecido no Ocidente. Foram os gregos os primeiros a sistematizar os conhecimentos adquiridos até então.Hipócrates (460- 361 a.C.), denominado “Pai da Medicina”, reuniu em sua obra "Corpus Hipocratium" a síntese dos conhecimentos médicos de seu tempo, indicando para cada enfermidade o remédio vegetal e o tratamento.
Teofrasto (372-285 a.C.), em sua “História das Plantas”, catalogou 500 espécimes vegetais. No século XIII a.C., Asclépio, curandeiro grego, grande conhecedor das ervas, concebe um sistema de cura, (também chamado de Esculápio de Cos) fundando o primeiro spa que se tem conhecimento, em Epidauro. Era baseado em banhos, chás, jejum, uso da música como terapia, jogos e teatros. Tales de Mileto e Pitágoras compilaram essas receitas (Oka, 1998).
O conhecimento grego sobre as ervas foi adquirido na Índia, Babilônia, Egito e até na China. Crateus, século I a.C., publicou a primeira obra - 0 Rhizotomikon sobre as plantas medicinais, com ilustrações. Dioscórides, médico grego, no século I da Era Cristã, enumerou em seu tratado, "De Materia Medica”, mais de 500 plantas medicinais e seus usos. Outra preciosa contribução foi de Pelácius, médico de Nero, que escreveu seus estudos sobre plantas medicinais, incluindo mais de 600 espécies diferentes que constituíram referência por 15 séculos.
Plínio, o Velho, que também viveu no século I da nossa era, catalogou sua obra, “História Natural”, em 37 volumes, e em oito deles descreve o uso pelos romanos das espécies vegetais úteis à medicina. No início da era cristã, na Índia, destacou-se o texto Vrikshayurveda, de Parasara, autor de muitos livros, inclusive sobre plantas medicinais. Galeno, médico grego, segundo século depois de Cristo, foi o primeiro a tratar as cãibras com ruibarbo, erva importada da China. Colecionou e descreveu muitos medicamentos e fórmulas cujos métodos de preparação deram origem à “farmácia galênica”.
Devido a eventos históricos como ascensão e queda do Império Romano e fortalecimento da Igreja Católica (que não via com bons olhos a aprendizagem científica e encarava a doença como um castigo), o estudo das plantas medicinais na Idade Média ficou estagnado por um longo período. Muitos escritos gregos foram esquecidos ou perdidos e recuperados em parte no início do século XVI, por meio de versão em árabe. Ocorreu ainda o triunfo da "Medicina dos Signos", que postulava a cura de determinadas partes doentes do corpo por meio de plantas que lhe fossem semelhantes. Durante o século X apareceu "The Leech Book of Bald and Cild", escrito por um curandeiro anglo-saxão, no qual misturava os conhecimentos escritos por Dioscórides, com os rituais que usavam na época e com receitas de magia e medicina provenientes do Oriente. Apenas alguns mosteiros, no século XI, na Europa, mantiveram a literatura medicinal e algumas mulheres de aldeias remotas. Fora desses locais eram utilizadas em rituais mágicos. Surgem as Escolas de Salerno e Montpellier (séc.XIII) e, a partir delas, as universidades, abrindo para o leigo as portas do conhecimento até então reservado aos monges e religiosos. A universidade de Salerno tem sua obra mais importante o “Regimen sanitatis salernitatum”, que trata das ervas medicinais. A bd-Allah Ibn Al-Baitar, que viveu no século XIII e foi o maior especialista árabe no campo da botânica aplicada à Medicina, produziu obra valiosa, descrevendo mais de 800 plantas. Em 1484 foi impresso o primeiro livro sobre cultivo de ervas medicinais, que praticamente era uma cópia dos escritos do século IV, contendo material descrito por Dioscórides. A cópia mais antiga dos escritos de Dioscórides é um manuscrito bizantino do século VI chamado “Codice vindobonensis”, considerado o documento médico mais importante até o aparecimento da obra de Leonardo Fuchs chamada “Historia stirpium”, que data de 1542.
Grande quantidade de livros começou a aparecer em toda Europa, com a invenção da imprensa. Em quase todos eram descritas partes das obras de Dioscórides, Galeno, Hipócrates, Aristóteles, com ilustrações copiadas diretamente dos manuscritos da antiguidade.
Só em 1542, na Alemanha, foi elaborada a primeira farmacopéia, uma lista de 300 espécies de plantas medicinais provenientes de todas as partes do mundo. No final do século XVI, já haviam sido organizados jardins botânicos em várias universidades. Até o século XVI, os tratados de Botânica, então denominados “herbários”, consideram as plantas por suas virtudes medicinais. A ascensão do prestígio da fitoterapia pode ser traduzida pela difusão da publicação de herbários como pela criação da primeira cátedra de botânica na Escola de Medicina de Pádua, em 1533. Em 1551 foi escrito o primeiro texto em inglês "Nieuwe Herball", de William Turner, incansável viajante e grande coletor de plantas (Hoffmann et al. 1992). Em 1563, Garcia da Orta, português que viveu na Índia, edita em Goa a obra Colóquios dos Simples, das Drogas e Cousas Medicinais da Índia.
John Gerard, em 1597, incluiu em seu "Herbário" de 1600 páginas, plantas provenientes do Novo Mundo e preservou os conhecimentos botânicos dos monges medievais. No século XVII, o tratado “Herbário Completo”, do inglês Nicolas Culpeper, relaciona as virtudes das plantas com os planetas.
John Parkinson escreve dois importantes livros sobre a botânica e seus usos medicinais: "Thetrum Botanicum" e "Paradisi in Sole Paradisus Terrestris".
Durante o século XVIII, Sir John Hill escreve "Virtudes de las Hierbas Britânicas", um trabalho inédito e bem ilustrado. Quase no final deste século, Samuel Hahnemann deu a conhecer sua teoria sobre a homeopatia, que aconselhava o tratamento das enfermidades com pequenas quantidades de substâncias derivadas das plantas, as quais eram ministradas aos pacientes como uma vacina.
Os alquimistas, dentre eles Paracelso, impulsionaram a arte de curar com plantas, lançando as bases da medicina natural. Ressaltavam a importância de seguir-se
um ritual na preparação de ervas a serem utilizadas na terapêutica e que o médico deveria estimular a resistência do organismo, usando remédios naturais e procurando atingir o máximo de capacidade de cura do próprio doente.
Durante o século XIX, o uso das ervas ficou mais restrito e cresceu o uso dos medicamentos obtidos através de processos químicos industriais. Entretanto, os livros sobre ervas continuaram aparecendo. C. F. Millspaugh, publicou em 1887, nos Estados Unidos, um livro com as plantas européias cultivadas na América, além de muitas ervas nativas do Novo Mundo.
Nos anos que ocorreram as guerras mundiais, o interesse pelas plantas medicinais voltou devido à necessidade de obter remédios eficazes para múltiplas enfermidades, visto que toda a economia dos países envolvidos na guerra estava destinada à produção de material bélico. Apareceu, no período entre guerras, um tratado da inglesa M.Gneve, "Um Herbario Moderno", que trata das propriedades medicinais, culinárias, cosméticas e econômicas, bem como o cultivo e o modo de uso das ervas. O Primeiro herbário das Américas é o Manuscrito Badanius, o herbário asteca, do século XVI, em Nahuatl. No Brasil, o uso das plantas como medicamento teve influência das culturas indígena, africana e européia.
Entre os índios, o pajé ou feiticeiro utilizava plantas entorpecentes para sonhar com o espírito que lhe revelaria a erva ou o modo de curar o enfermo e também pela observação de animais que procuram certas plantas quando doentes. Um exemplo é o uso da raiz de ipecacuanha, pelos animais, para alívio de cólicas e diarréias.
As primeiras notificações fitológicas brasileiras são atribuídas ao padre José de Anchieta e a outros jesuítas. Alguns manuscritos narravam “pescarias miraculosas”, onde os aborígenes narcotizavam os peixes com o uso de cipós.
Os indígenas brasileiros acreditavam em fatores sobrenaturais, quando se tratava de doenças sem causa externa identificável como ferimentos, fraturas e envenenamento. Os pajés associavam o uso de plantas a rituais de magia e seus tratamentos eram, assim, transmitidos oralmente de uma geração a outra.
Para os africanos, quando alguém adoecia é porque estava possuído pelo espírito mau e um curandeiro se encarregava de expulsá-lo por meio de exorcismo e uso de drogas.
A influência européia teve início no Brasil com a vinda dos primeiros padres da Companhia de Jesus chefiados por Nóbrega, em 1579, os quais chegaram com
Tomé de Souza para catequizar os índios. Formularam receitas chamadas “Boticas dos Colégios”, à base de plantas para o tratamento de doenças.
Informes sobre a medicina jesuítica nos primeiros séculos da nossa colonização mostram a importância das plantas como medicamento. Segundo Camargo (1998), a princípio os medicamentos vinham do reino já preparados. Mas as piratarias do século XVI e as dificuldades da navegação impediram, com freqüência, a vinda dos navios de Portugal e era preciso reservar grandes provisões, como sucedia em São Vicente e São Paulo ao tempo da Conquista do Rio de Janeiro (1565). A necessidade local obrigou os jesuítas a terem provisão de medicamentos; e também logo a procurarem os que a terra podia dar, com suas plantas medicinais, que começaram estudar e utilizar em receitas próprias, como as do irmão Manuel Tristão, em 1625. Foi o primeiro boticário ou farmacêutico da Companhia no Brasil. Deixou uma breve “Coleção de Receitas Medicinais” conhecida por Purchas, em 1625. Ficou famosa a Triaga Brasílica, que aplicava em várias doenças, e cuja fórmula era mantida em segredo pelos jesuítas.
Também Pedro Luiz Napoleão Chernoviz elaborou, baseado em conhecimentos adquiridos e em publicações européias, um Formulário e um Dicionário, que passaram a ser os guias médicos dos lares brasileiros. A Revista do Arquivo Municipal de São Paulo cita que os índios utilizavam a batata-de-purga para limpar o aparelho digestivo e a ipecacuanha curava tudo, era uma verdadeira panacéia. Os europeus viram uma flora exuberante e perceberam que os índios sabiam fazer uso da mesma. Levaram tudo que podiam e trouxeram ervas, como a camomila, calêndula e alfazema, que se aclimataram muito bem. Essas influências constituem a base da medicina popular que há algum tempo vem sendo retomada pela medicina natural, visando não só a cura de algumas doenças, mas restituir o homem à vida natural. A primeira história natural brasileira, elaborada por Wilhem Pies e Georg Marcgraf, integrantes da comitiva de Maurício de Nassau, incluía um herbário de plantas medicinais (Historia Naturalis Brasiliae). Os paulistas com suas “Entradas e Bandeiras” foram os primeiros a utilizarem a medicina herbalista, e mais tarde os negros escravos. Entre 1779 e 1790, Frei Veloso faz um levantamento da capitania do Rio de Janeiro e arredores, resultando os livros “Plantas Fluminensis” e “O Fazendeiro do Brasil”. Karl Friedrick Von Martius, chegou ao Brasil em 1817, viajou por vários estados brasileiros, como São Paulo, Minas Gerais, Maranhão e Amazonas. Coletou cerca de 6500 espécies, surgindo daí sua obra “Flora Brasiliensis”. No mundo moderno, um de seus maiores botânicos, Richard Schultes afirma que o conhecimento indígena do poder curativo das plantas é uma ciência muito antiga em que as doenças do corpo e da alma estão intimamente ligadas. Os curandeiros (xamãs) entendem que a saúde depende do perfeito equilíbrio do corpo, dos sentidos, da mente e do espírito, para que a energia possa fluir e obter resultados satisfatórios. As plantas sempre estiveram ligadas ao homem e sempre estarão sendo utilizadas por ele, tanto na cura dos males como em outros múltiplos usos.







Fonte:
Schirlei da Silva Alves Jorge




(Scott Cunningham - Magical Herbalism)